or: Acácio Salvador Véras e Silva (PROFESSOR DA UFPI E PRESIDENTE DA FAPEPI)

O Brasil se consolidou como um grande produtor de ciências, isto é, refletido por uma destacada colocação obtida na frente de países considerados de primeiro mundo como Holanda, Rússia, Suíça, Suécia. Hoje produzimos mais de 2% da ciência produzida no mundo e ocupamos a décima terceira posição entre os melhores colocados. Sem dúvida, isto é uma grande conquista, especialmente das nossas Universidades Federais. Ressalte que isto se deve aos significativos aumentos de investimentos financeiros do Governo Federal.

Acácio Veras: professor da UFPI e presidente da FAPEPI Foto: Site da FAPEPI

Embora nossas Universidades e Institutos de pesquisa apresentem esta boa resposta na produção de ciência, continuamos extremamente carentes em Inovação Tecnológica. Ainda não conseguimos transformar a nossa grande produção de ciência em produtos inovativos nas empresas. Existe um distanciamento inaceitável entre estes setores gerando perdas incalculáveis à sociedade.

Foi realizado um seminário, recentemente, em Brasília (abril de 2010) com a presença de representantes dos países que constituem o chamado BRIC (sigla esta que foi criada por Jim O’Neil economista do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo), com o objetivo de apontar os quatro países que, em tese, serão as maiores potências mundiais a partir de 2020, ou seja, Brasil, Rússia, Índia e China. Neste seminário, ficou demonstrado, nos dados apresentados, como o Brasil já evoluiu e o quanto falta evoluir neste setor.

Mostrou-se que os investimentos financeiros chineses em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P&I) passaram de cerca de 0,8% do PIB em 2000 para 1,4% em 2008. No mesmo período, o Brasil saiu de 1,0% para apenas 1,1%, sendo que a China cresceu, nesta década, em média, 8% ao ano e o Brasil obteve taxas de crescimento de 3,3%.

A diferença é que além dos investimentos públicos, na China as empresas participam efetivamente dos investimentos em P&I. Desta forma, o Governo pode direcionar suas ações para investimentos em outros setores da educação, conforme modelo dos países de primeiro mundo.

O Governo brasileiro, através dos Fundos Setoriais, tem estimulado a interação Universidade/Empresa a melhorar. A aplicação de elevados recursos financeiros, advindos destes Fundos, especialmente, o Verde-Amarelo tem contribuído para correção deste grave erro. Outro importante marco deste caminho tem sido a criação de um arcabouço legal mais propício a cultura empreendedora e de inovação no Brasil. Destacamos aqui a Lei de Inovação (2004) a Lei do Bem (2005) e a Lei Rounet da Pesquisa (2007).

Embora presenciemos estas relevantes iniciativas ainda não conseguimos observar os efeitos esperados. Alguns problemas podemos apontar: os Estados brasileiros, a exemplo de São Paulo, deveriam aplicar parcelas estáveis e fixas das suas arrecadações na(s) sua(s) Universidades estaduais e Fundação de Amparo à Pesquisa. Hoje o Estado de São Paulo investe mais de 1,5% do seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento. Os resultados disto são visíveis na sua pujança científica e tecnológica, pois sozinho tem 21% de toda nossa população, responde por 31% do PIB nacional e por mais de 50% da produção de P&I.

Há a necessidade de elevados investimentos financeiros, tanto dos governos estaduais quanto das empresas/indústrias, na capacitação de pessoal altamente especializado. A rigor pesquisas são realizadas por doutores. Embora o Brasil, nos últimos sete anos, tenha dobrado a formação de doutores atingindo o número de 10 mil por ano, este número ainda é muito pequeno. O mais grave disto é que deste total apenas uma pequena quantidade é de engenheiros e é pela engenharias que passam as maiores possibilidades de realizar-se as necessárias inovações tecnológicas. Corroborando com esta carência observamos baixo número de vagas ofertadas nos cursos de Engenharias no Brasil que somam menos de 120 mil, representando pouco mais de 4% do total de vagas do ensino superior. Pegando outros países como exemplo, temos a Coréia do Sul, onde 26% de todos os formandos são engenheiros. No Japão, quase 20%. Na China, eles alcançam o fantástico percentual de 40%. Mesmo em país em desenvolvimento como o México, este percentual é de 14,3%, bem mais alto do que no Brasil.

Precisamos também elevar a absorção de pesquisadores pelas empresas; mais de 65% encontram-se nas universidades públicas e apenas 26% nas empresas/indústrias. Enquanto que na Rússia, país concorrente e pertencente ao BRICs, como o Brasil, as empresas/indústrias absorvem mais de 50% dos seus pesquisadores e apenas 15% concentram-se nas universidades. Em países de primeiro mundo esta participação é ainda maior, atingem quase 80% nos Estados Unidos, 70% no Japão, 60% na Alemanha e 77% na Coréia do sul.

Estes dados e muitos outros demonstram claramente que o Brasil precisa avaliar urgentemente suas metas,projetos, programas e leis implementados até aqui para poder fazer correções, adequações ou mesmo aprofundamentos necessários para colocar o país nos trilhos corretos, evitando que fiquemos para trás na corrida do conhecimento científico e tecnológico.

Fonte: Jornal O DIA

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